O uso de antibióticos durante a gravidez nem sempre pode ser evitado. Os investigadores que levaram a cabo a pesquisa acerca do impacto do uso de antibióticos na saúde de bebés prematuros publicaram recentemente as suas descobertas em Journal of Pediatrics.
Bebés nascidos prematuramente são extremamente vulneráveis até mesmo no ambiente de proteção providenciado pelas unidades de cuidados intensivos neonatais. Cerca de 33% dos bebés nascidos antes das 32 semanas de gestação desenvolvem septicemia tardia que ocorre quando a corrente sanguínea é infetada por bactérias. 7% dos bebés prematuros desenvolvem enterocolite necrosante (ECN), uma doença grave que causa a morte de secções do intestino, a qual apresenta taxas de mortalidade relativamente elevadas. Estudos anteriores sugerem que o risco de desenvolver estas doenças, ou até mesmo de morte, aumenta em bebés prematuros que recebem antibióticos durante um longo período após o nascimento.
O uso de antibióticos durante a gravidez pode afetar a população microbiana existente no trato intestinal do bebé
O desenvolvimento de infeções resistentes aos antibióticos ingeridos pelas mães durante a gravidez pelos bebés é uma preocupação emergente. Por esta razão, uma equipa nos EUA levou a cabo uma investigação com o intuito de descobrir se a exposição de fetos a antibióticos durante a gravidez poderia aumentar a ocorrência de infeções bacterianas em bebés prematuros após o nascimento, tais como a septicemia tardia e a enterocolite necrosante.
A equipa recolheu dados de 580 bebés nascidos antes das 32 semanas de gestação. Estes bebés terão sido colocados numa das três unidades de cuidados intensivos neonatais de nível III em Ohio ou em Alabama, nos Estados Unidos. Estes bebés foram acompanhados durante 120 dias, até receberem alta, serem transferidos ou falecido. Os resultados, publicados em Journal of Pediatrics, demonstraram que 21,3% dos bebés desenvolveram enterocolite necrosante (7,5%), septicemia tardia (11,1%), ou faleceram (9,6%). Fatores tais como peso à nascença, a idade gestacional, género, etnia ou duração da amamentação não influenciaram os resultados obtidos.
Antibióticos durante a gravidez podem ter um efeito protetor
Ao comparar o uso de antibióticos durante a gravidez com o risco de desenvolver enterocolite necrosante ou septicemia tardia, ou o risco de morte, a equipa descobriu que 62,4% dos bebés foram expostos a pelo menos um antibiótico durante a gravidez. O uso de antibióticos durante a gravidez foi definido como a administração de qualquer antibiótico dentro de 72 horas após o parto. As mães que receberam antibióticos durante o parto ou durante a cesariana não foram incluídas uma vez que a administração de antibióticos nestes períodos de tempo não deverão afetar o bebé. Ao contrário do esperado, a equipa descobriu que o uso de antibióticos durante a gravidez reduziu significativamente o risco de enterocolite necrosante e de morte. No entanto, houve um aumento não significativo do risco de septicemia tardia. A equipa não foi capaz de determinar a razão pela qual o risco de septicemia tardia aumentou e sugeriu que estudos posteriores investiguem esta questão mais a fundo.
Antibióticos administrados após o nascimento aumentam o risco de morte
A equipa avaliou também os efeitos dos antibióticos administrados após o nascimento e o seu impacto no risco de enterocolite necrosante, septicemia tardia, ou morte. Os dados recolhidos demonstraram que 23,2% dos bebés foram altamente expostos a antibióticos após o nascimento, sendo que receberam antibióticos por mais de cinco dias contínuos após o nascimento. Estes bebés estavam também mais propensos à exposição de antibióticos durante a gravidez. A equipa descobriu que a exposição elevada a antibióticos após o nascimento aumentou o risco de morte de forma significativa. No entanto, não teve qualquer impacto no risco de enterocolite necrosante ou de septicemia tardia. É possível que a exposição a antibióticos durante a gravidez tenha contribuído para o desenvolvimento de infeções bacterianas resistentes a antibióticos neste subgrupo de bebés.
São necessários mais estudos acerca dos efeitos dos antibióticos nas populações microbianas.
Este estudo destaca a importância da influência dos antibióticos nas interações entre as populações microbianas maternas e infantis. As informações obtidas serão altamente valiosas para a prescrição de antibióticos a bebés prematuros altamente vulneráveis. No entanto, os autores enfatizam que as populações microbianas variam geograficamente, temporalmente, e até mesmo de acordo com a origem étnica. Portanto, os resultados obtidos poderão não ocorrer em outras populações.
Escrito por Natasha Tetlow, PhD
Traduzido por Ângela Carvalho, PgC
Referência: Reed B, et al. The impact of maternal antibiotics on neonatal disease. J Pediatr. 2018. 197: 97-103.