Cientistas nos EUA investigaram os efeitos da terapia de flutuação nos sintomas de ansiedade, stress e depressão numa amostra clínica.
A terapia de flutuação foi inventada com o objetivo de proporcionar um ambiente que limita a quantidade de estímulos sensoriais que atingem o corpo humano. Como estímulo sensorial entende-se qualquer evento percebido pelos sentidos como o cheiro, a visão, o toque, o gosto e a audição. Na terapia de flutuação, os indivíduos flutuam de costas numa piscina de água rasa com sais de Epsom. Estes permitem a flutuação sem esforço com os olhos, nariz e boca confortavelmente acima do nível da água. Para além disso, todo o ambiente está preparado de forma a evitar quaisquer estímulos sensoriais externos. Por exemplo, o quarto está completamente escuro, é à prova de som e com a temperatura controlada.
Quais os efeitos da terapia de flutuação?
Investigações anteriores demonstraram consistentemente que a terapia de flutuação reduz os níveis de stress e aumenta os níveis de relaxamento medidos pré e pós a sessão de flutuação. Grande parte das investigações levadas a cabo no passado estudaram amostras clínicas de participantes saudáveis, sendo que apenas uma pequena percentagem de estudos investigou os seus efeitos em indivíduos que sofrem de ansiedade.
Devido a tal inconsistência, cientistas nos EUA investigaram os efeitos da terapia de flutuação em sintomas de ansiedade, stress e depressão numa amostra clínica. Os resultados foram recentemente discutidos em PLoS ONE.
Os cientistas recrutaram 50 participantes que exibiam variados sintomas de diferentes distúrbios relacionados com a ansiedade e stress: stress pós-traumático, ansiedade generalizada, pânico, agorafobia e ansiedade social. Muitos dos participantes (46 em 50) reportaram sofrer de depressão para além dos distúrbios de ansiedade ou stress. Como ponto de referência, foram recrutados 30 indivíduos saudáveis para providenciar contexto para os resultados obtidos na amostra clínica.
Os participantes tiveram que preencher 3 questionários de diferentes tipos que incluíam medidas de base, medidas pré e pós sessão de flutuação e questões complementares. As medidas de base serviram para avaliar os sintomas dos participantes e a sua disposição e reação durante o período do estudo. As medidas pré e pós sessão de flutuação foram recolhidas 30 minutos antes e após cada sessão para avaliar as variações de sintomas e de disposição. Finalmente, as questões complementares recolheram informação acerca da experiência de flutuação em geral.
Quais os efeitos da terapia de flutuação nos pacientes que sofrem de ansiedade?
O aparelho utilizado neste estudo tinha como objetivo reduzir as barreiras de entrada para se melhor acomodar às necessidades dos participantes que sofrem de ansiedade. Em vez do tradicional tanque fechado, foi utilizada uma piscina num quarto para reduzir a sensação de claustrofobia. Para além disso, foi dado aos participantes o controle total da experiência, podendo entrar e sair da piscina sem restrições e escolhendo ter as luzes apagadas ou não.
Durante o estudo não houve efeitos secundários graves ou problemas de segurança. Uma análise dos efeitos da terapia de flutuação nos sintomas apresentados pelos participantes revelou reduções significativas na ansiedade, stress, tensão muscular, dor, depressão e sentimentos negativos. Adicionalmente, houve melhorias relevantes a nível da disposição demonstradas por aumentos da serenidade, relaxamento, felicidade, sentimentos positivos, bem-estar geral, níveis de energia e tranquilidade.
Em relação à amostra de indivíduos saudáveis que participaram no estudo, esta reportou alterações de maior magnitude. Os níveis de ansiedade pós sessão de flutuação dos indivíduos da amostra clínica alcançaram níveis semelhantes aos dos participantes saudáveis. Análises posteriores descobriram que as maiores alterações a nível dos sintomas dos distúrbios e disposição ocorreram nos pacientes com as medidas base de ansiedade mais altas.
A terapia de flutuação foi segura e efetiva
As questões complementares revelaram que 47 dos 50 participantes da amostra clínica concordaram que a terapia de flutuação é potencialmente uma intervenção efetiva para a redução da ansiedade. Ademais, quase 75% dos participantes reportaram maiores níveis de relaxamento com a terapia de flutuação do que com qualquer outra terapia. Todos os participantes pediram para participar novamente numa sessão de flutuação.
No geral, este estudo demonstrou que apenas uma sessão de flutuação foi capaz de estimular melhorias significativas na disposição e reduzir a ansiedade na amostra clínica. Os resultados deste estudo sugerem que a terapia de flutuação pode providenciar maiores benefícios àqueles que sofrem de maiores níveis de stress. Os resultados deste estudo mostram também que a terapia de flutuação pode ser capaz de reduzir para níveis normais a ansiedade em pacientes que sofrem deste distúrbio.
Apesar deste estudo indicar que a terapia de flutuação é uma intervenção promissora na redução dos sintomas de ansiedade para quem sofre deste distúrbio, os dados recolhidos terão que ser reproduzidos num estudo de dimensões maiores para que sejam alcançadas conclusões concretas. Estudos futuros deverão investigar também se os efeitos positivos alcançados podem ser mantidos e até mesmo melhorados com vária sessões de terapia de flutuação.
Escrito por Caitlin M. Byrne, BSc
Traduzido por Ângela Carvalho, PgC
Referências:
Feinstein, J. S., Khalsa, S. S., Yeh, H., Wohlrab, C., Simmons, W. K., Stein, M. B., & Paulus, M. P. (2018). Examining the short-term anxiolytic and antidepressant effect of Floatation-REST. PLoS ONE, 13(2): e0190292. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0190292