Friday, April 19, 2024
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Qual a relação entre o consumo de carnes vermelhas e doenças cardíacas?

Um estudo recente analisou se a relação existente entre o consumo de carnes vermelhas e doenças cardíacas é devido ao aumento dos níveis de ferro no sangue.

Uma das principais causas de morte a nível mundial são as doenças cardíacas. Existem provas de uma relação entre o consumo elevado de carnes vermelhas e doenças cardíacas mas é, no entanto, desconhecida a forma exata através da qual o consumo de carnes vermelhas leva ao aumento do risco destas. Uma possível explicação é o fato de as carnes vermelhas serem ricas em ferro e níveis altos deste nutriente no sangue contribuir para o desenvolvimento de doenças cardíacas. Esta teoria foi testada num estudo alemão recentemente publicado no The American Journal of Clinical Nutrition.

Os investigadores recrutaram participantes do estudo europeu EPIC-Heidelberg, um estudo clínico que têm vindo a seguir 25,000 voluntários saudáveis de ambos os sexos desde meados da década de 90. No início do estudo foram recolhidas amostras de sangue e os participantes providenciaram também informações detalhadas acerca do seu estatuto sócio-económico, estilo de vida e hábitos alimentares. A fim de analisar a relação entre o consumo de carnes vermelhas e a ocorrência de doenças cardiovasculares, os investigadores identificaram todos os membros deste grupo que mostrassem indícios de doenças cardíacas. Os investigadores descobriram que 555 participantes sobreviveram um infarto do miocárdio, 513 sobreviveram um acidente vascular cerebral e 381 morreram devido a doenças cardiovasculares. Foram selecionados aleatoriamente 2,738 participantes para o grupo de controle.

Os investigadores utilizaram a informação acerca dos hábitos alimentares para determinar a quantidade geral de carnes vermelhas consumidas por cada participante. Mediram também as quantidades de ferro e as proteínas de reserva de ferro como a transferrina e ferritina nas amostras de sangue recolhidas no início do estudo (análises ao sangue para testar os níveis de ferritina são comuns para avaliar o armazenamento de ferro no organismo). Foram então utilizados diversos métodos estatísticos para determinar se de fato existe uma relação entre os níveis de ferro no sangue, o consumo de carnes vermelhas e o desenvolvimento de doenças cardíacas. Tais métodos auxiliaram na determinação de vários fatores associados ao aumento do risco de doenças cardíacas, tais como a idade, sexo e outros fatores de saúde e estilo de vida.

Níveis elevados de ferritina

O consumo excessivo de carnes vermelhas levou ao aumento dos níveis de ferritina no grupo de controle, uma proteína utilizada pelo organismo para armazenar ferro. No entanto, outras medidas de concentração de armazenamento de ferro (concentração de ferro no sangue e transferrina) não sofreram alterações com o consumo de carnes vermelhas.

Aumento do risco de infarto do miocárdio

Em média, os participantes que sofreram de infartos do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais ou morte por doença cardíaca ingeriam mais carnes vermelhas do que os participantes do grupo de controle. Após o ajuste das variáveis idade e sexo, por cada 50 gramas (1.8 onças) adicionais de consumo de carne vermelha diário aumentou o risco de infarto do miocárdio 1.18 vezes, de acidente vascular cerebral 1.16 vezes, e de morte por doença cardíaca 1.27 vezes.

Os participantes que mostraram indícios de infarto do miocárdio apresentaram no geral um índice de massa corporal mais alto, um nível de educação mais baixo, maior probabilidade de serem fumadores e níveis elevados de pressão arterial em relação ao grupo de controle. Tais fatores de saúde e de estilo de vida estão já associados ao risco elevado de doenças cardíacas. Sendo estes tidos em conta conjuntamente com outros fatores de risco como o consumo de álcool, o consumo de fibras dietéticas, a ingestão de suplementos energéticos, a menopausa, a proteína C reativa, e os níveis de lipoproteína de baixa densidade, apenas a relação entre o consumo de carnes vermelhas e a ocorrência de infartos do miocárdio permanece significativa.

Por outras palavras, os fatores de risco conhecidos, excluindo o consumo de carnes vermelhas, eram capazes de explicar porque alguns participantes corriam maior risco de acidente vascular cerebral e morte por doença cardíaca. Isto significa que, por exemplo, o consumo elevado de carnes vermelhas pode causar obesidade mas é a obesidade que aumenta o risco de acidente vascular cerebral e morte, e não o consumo de carnes vermelhas em específico.

Risco de infarto do miocárdio em consideração de outros fatores

Após ajustar as variáveis idade e sexo, cada concentração em dobro de ferritina aumentou o risco de infarto do miocárdio 1.09 vezes e o risco de morte por doença cardíaca 1.13 vezes. No entanto, tais relações deixaram de ser significativas quando os fatores de risco adicionais conhecidos foram tidos em conta.

Para além disso, os participantes com concentrações baixas de ferritina (menos de 76.5 ng/ml) não corriam menor risco de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral ou morte por doença cardiovascular do que aqueles com concentrações altas. As outras medidas de armazenamento de ferro (ferro no sangue e transferrina) não estavam associadas ao risco de doenças cardiovasculares.

O ferro existente nas carnes vermelhas pode não aumentar o risco de doenças cardíacas

Este estudo apresentou várias limitações. Todas as amostras de sangue e questionários acerca dos hábitos alimentares foram recolhidos no início do estudo, anos antes de muitos dos participantes mostrarem indícios de doenças cardíacas. É, portanto, possível que os hábitos alimentares e os níveis de armazenamento de ferro tenham mudado no período corrente. Ademais, as causas de morte dos participantes do estudo foram determinadas por certificados de óbito e não por arquivos médicos que teriam sido mais credíveis. Finalmente, os participantes alemães no estudo EPIC-Heidelberg podem não ser representativos de de outras populações, como os norte-americanos.

Em suma, este estudo não defende a ideia de que o ferro existente nas carnes vermelhas aumenta o risco de doenças cardíacas mas que níveis elevados da proteína de armazenamento de ferro, a ferritina, possam ser marcadores de outros fatores de saúde e de estilo de vida, tais como a obesidade e o consumo de tabaco, as reais causas de doenças cardíacas. No entanto, este estudo encontrou provas que o consumo elevado de carnes vermelhas aumenta o risco de infarto do miocárdio, independentemente dos outros fatores de risco mas o processo exato é ainda desconhecido.

Escrito por Bryan Hughes, PhD
Traduzido por Ângela Carvalho, PgC

Referências: Quintana Pacheco, D. A., Sookthai, D., Wittenbecher, C., Graf, M. E., Schübel, R., Johnson, T., Katzke, V., Jakszyn, P., Kaaks, R. & Kühn, T. Red meat consumption and risk of cardiovascular diseases—is increased iron load a possible link? The American Journal of Clinical Nutrition 107, 113-119 (2018).

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