Uma análise recente conduzida por investigadores suíços estudou a progressão do compromisso da OMS a nível global para acabar com a epidemia do vírus da SIDA até ao ano 2030 e os desafios do tratamento do VIH.
Em 2006 existiam aproximadamente 1.3 milhões de pessoas de classe baixa a classe média a receberem o tratamento antiretrovírico (TAR). Entre estes, o diagnóstico utilizado variou consideravelmente, i.e. que medicamentos foram receitados a pacientes seropositivos e a forma através da qual o tratamento foi administrado. Numa tentativa de estandardizar e acelerar o acesso ao tratamento do VIH, incluindo a simplificação do tratamento TAR, a OMS avançou com uma abordagem de saúde pública para aumentar o acesso de locais com poucos recursos ao TAR e pôr um fim á epidemia do vírus da SIDA até ao ano 2030.
Esta visão e o compromisso global da OMS tem de fato ajudado a estabelecer as bases para o desenvolvimento do tratamento do VIH. No entanto, subsistem obstáculos para o controlo do vírus e fornecimento do tratamento a nível global. Dado a estes desafios, que incluem a necessidade de melhorar os métodos de teste e diagnose do VIH, a simplificação do tratamento e o aumento da monitorização, existe também a necessidade de criar uma ligação entre o teste, tratamento, cuidados e prevenção do VIH.
A abordagem da OMS tem vindo a requerer a implementação de princípios de saúde chave em muitos países de forma a alcançarem este objetivo global de controlo da epidemia do vírus da SIDA. Um estudo recente levado a cabo por investigadores suíços e publicado no The Lancet Infectious Diseases revê os alcances desta iniciativa, informa acerca das últimas atualizações na abordagem à saúde pública e informa do que é ainda necessário fazer a nível do tratamento e cuidados relacionados com o vírus da SIDA para realizar os objetivos da OMS.
Progressos no tratamento do VIH
No final do ano de 2016, foi reportado que mais de 19.5 milhões de pessoas recebiam o tratamento TAR e que os pacientes seropositivos tinham então uma esperança média de vida similar à população em geral devido à eficácia do tratamento do VIH. São de salientar grandes avanços científicos que, em conjunto com inovações de diagnóstico e indícios de alta qualidade alcançados através de estudos observacionais e experimentais, resultaram em 16 novos medicamentos antiretrovíricos e combinações de medicamentos para o tratamento do VIH a serem aprovadas pela FDA. Além disso, foi notada a redução do custo de tratamento por paciente por ano de mais de $10,000 para menos de $100.
Tratamento do VIH nos cuidados básicos de saúde
Destacam-se o reconhecimento e alterações causadas pela acessibilidade ao tratamento não só de centros especializados mas agora também disponível nos cuidados básicos de saúde. Esta expansão permitiu a concretização de melhores resultados no tratamento de adultos e crianças seropositivas. Apesar da relutância inicial na descentralização e integração do TAR ao nível dos cuidados básicos de saúde, o aumento dos resultados benéficos do tratamento, especialmente em populações de alto risco, provam as recomendações da OMS. Por esta razão muitos países estão a adotar esta abordagem.
Com a prevenção de cerca de 7.8 milhões de mortes e de aproximadamente 30 milhões de novos casos de VIH, em especial nas classes baixa e média, as populações de alto risco, a implementação das diretrizes da OMS estabelecidas em 2006 para acelerar o acesso ao TAR na última década tem vindo a alterar significativamente o curso desta epidemia. O próximo passo para acabar com a SIDA é agora o aumento da prevenção que inclui o controlo do vírus a longo prazo e a redução da sua transmissão.
90/90/90
A fim de alcançar os objetivos estabelecidos de forma rápida, a OMS estabeleceu a meta 90/90/90 até 2020. Esta meta significa de 90% dos seropositivos sejam diagnosticados, 90% dos seropositivos recebam tratamento e 90% dos seropositivos a receberem o TAR alcancem a supressão do vírus. A projeção desta meta aponta para 21 milhões de vidas que podem ser salvas e 28 milhões pessoas que contraiam a doença evitadas nos próximos 15 anos.
Simplificação e estandardização do tratamento
É importante para a realização da abordagem da OMS a simplificação e estandardização dos regimes de tratamento, tomadas de decisão a nível clínico e a monitorização dos tratamentos. O padrão de excelência para o tratamento TAR em primeira linha para a maioria dos pacientes é um comprimido por dia, que deve ser tido em consideração com a introdução de novos medicamentos e regimes de tratamento. O controle do fracasso do tratamento necessita ainda de aperfeiçoamento, i.e é necessária a simplificação do tratamento de segunda linha pois não existe ainda o tratamento de um comprimido por dia ou uma combinação fixa caso o tratamento de primeira linha falhe e os pacientes que requerem tratamentos de segunda linha enfrentem dificuldades na sua aderência.
A prevenção do VIH têm progredido no últimos anos devido à combinação de estratégias comportamentais efetivas incluindo a iniciação antecipada do TAR, um aumento da circuncisão masculina voluntária, a exposição prematura à profilaxia, ou ações de prevenção da disseminação da infeção a fim de reduzir a transmissão. No entanto, as taxas de implementação e adesão às estratégias de prevenção permanecem baixas e, se o objetivo de acabar com a epidemia da SIDA até ao ano de 2030 é para ser alcançado, é necessária a aceleração e intensificação das intervenções de prevenção, em particular através da associação do teste do VIH ao tratamento e cuidados uma vez que não existe um só método eficaz. O aumento do alcance do teste ao VIH, como por exemplo, assegurar a identificação precoce dos pacientes infetados e o subsequente início do tratamento e cuidados será um bom começo na melhoria das taxas do VIH.
Em suma, os métodos de saúde pública na melhoria do tratamento do VIH e dos resultados clínicos para os pacientes seropositivos têm visto um grande desenvolvimento desde a introdução da abordagem da OMS em 2006. No entanto, para alcançar o objetivo de erradicar a epidemia da SIDA até ao ano 2030, este estudo demonstra que há ainda muito trabalho a ser feito. Consequentemente, os métodos acima apresentados permanecem extremamente relevantes e realçam a necessidade dos países, especialmente aqueles de alto risco, de implementar os princípios de saúde pública para a implementação do TAR e cuidados a fim de concretizar o objetivo de controlo da epidemia e providenciar cuidados a nível global.
Escrito por Lacey Hizartzidis, PhD
Traduzido por Ângela Carvalho, PgC
Referências:
Ford N, Ball A, Baggaley R, Vitoria M, Low-Beer D, Penazzato M, Vojnov L, Bertagnolio S, Habiyambere V, Doherty M, Hirnschall G. The WHO public health approach to HIV treatment and care: looking back and looking ahead. Lancet Infect Dis. 2018 Mar;18(3):e76-e86. doi: 10.1016/S1473-3099(17)30482-6.