Investigadores nos EUA recolheram e resumiram os dados existentes até aos dias de hoje acerca do impacto das células estaminais e dos genes de anti-envelhecimento no processo do envelhecimento.
O envelhecimento é inevitável e pode trazer uma série de problemas de saúde como a perda de audição, visão, força muscular, massa óssea, imunidade, cognição e metabolismo. Cumulativamente, tais problemas afetam a sociedade, a economia e o sistema de saúde. Apesar destes problemas serem abordados através de programas como residências seniores, poupanças da reforma e seguros de saúde, estas são apenas formas de tratamento dos problemas de saúde associados ao envelhecimento e não alternativas de cura.
O envelhecimento é um efeito natural progressivo controlado por fatores ambientais e genéticos. Estes fatores afetam o corpo humano de forma positiva ou negativa, aumentando ou diminuindo o processo de envelhecimento. A acumulação dos fatores descritos afeta as células estaminais existentes no corpo humano, consideradas elementos estruturais fundamentais do corpo humano. Ao contrário das células musculares utilizadas para correr ou dos neurónios no cérebro para pensar, as células estaminais não “trabalham” no corpo humano. Ao invés, estas têm a habilidade de se copiarem e transformarem noutros tipos de células, como as células musculares e os neurónios, a base da regeneração.
Regeneração
As células estaminais podem ser consideradas cruciais na regulação do envelhecimento, a deterioração natural do corpo humano. Estas ajudam à regeneração através da substituição das células mais velhas e deterioradas. Este processo é observado nos animais pertencentes ao género Planaria que podem regenerar por completo o seu corpo em apenas cinco dias, e nos pertencentes ao género Hydra que se podem também regenerar totalmente entre sete a dez dias. As salamandras são capazes de regenerar membros em alguns dias apenas.
Apesar dos humanos não partilharem este processo de regeneração, possuem pois a capacidade de regenerar 2/3 do fígado e as pontas dos dedos quando novos de idade. A regeneração em humanos é portanto visível na cura do corpo humano dos traumas diários causados pela poluição, consumo de tabaco, alcoolismo, stress, obrigações sociais e depressão. Um artigo recente publicado no Stem Cell Research and Therapy sumaria os dados conhecidos até hoje acerca das células estaminais e do envelhecimento.
Genética e anti-envelhecimento
Em conjunto com as células estaminais, a genética desempenha um papel fundamental na determinação da velocidade com que o corpo humano envelhece. Um dos genes do anti-envelhecimento mais bem estudado é a enzima Klotho, nome da deusa grega que controla o “fio da vida”. Em estudos genéticos, o aumento desta enzima aumenta a expetativa de vida dos ratos, e a sua diminuição resulta em envelhecimento prematuro. Investigadores demonstraram que a enzima Klotho controla muitos elementos do envelhecimento como a oxidação dos tecidos, os níveis de insulina e a regeneração das células estaminais.
Para além disso existem também os telómeros cujo comprimento está associado com a idade do corpo humano. Os telómeros são “capas protetoras” do ADN e quanto maior o seu comprimento mais novo o corpo. Normalmente todos os corpos humanos nascem com telómeros longos e com o avançar da idade estes encurtam, causa do envelhecimento e desativação das células estaminais e subsequente morte.
A fim de combater a redução do comprimento dos telómeros com a idade, o corpo humano produz uma enzima denominada telomerase. No entanto, a atividade desta enzima diminui também com o passar do tempo diminuindo as suas capacidades de anti-envelhecimento. É interessante notar que a restrição de calorias poderá aumentar a atividade da telomerase e manter o comprimento dos telómeros. A diminuição de calorias em 30% aumenta o tempo de vida em 30%. A restrição calórica em modelos animais demonstrou efeitos benéficos na luta contra a oxidação, inflamação, detoxificação, atividade da telomerase e reparações do ADN. Este fenómeno tem sido consistente em todos os grupos de modelos animais testados sugerindo uma ligação significativa entre a dieta alimentar e o envelhecimento. Por razões éticas, este tipo de estudos nunca foi realizado em humanos e não é aceite pelos profissionais de saúde.
Tratamentos de anti-envelhecimento com células estaminais
O objetivo de muitos dos tratamentos hoje em dia no mercado é o aumento da população de células estaminais no corpo humano, assim como a melhoria da saúde destas para lutar contra os efeitos do envelhecimento através da regeneração. Um tipo de células estaminais de grande interesse para a comunidade científica e farmacêutica são as células estaminais mesenquimais (CEM). Estas têm-se mostrado cruciais na regeneração de pele, muscular, de cartilagem e óssea. As CEM são normalmente entre encontradas na medúla óssea. Quando o corpo sofre um ferimento, como por exemplo um corte, as citocinas, sinais químicos utilizados pelo corpo para comunicar, são libertadas para ativar as CEM que reparam a área ferida.
No entanto, com o passar dos anos reduz o número de células estaminais mesenquimais existentes na medula óssea, abrandando a capacidade de regeneração e causando o envelhecimento. Isto é bem visível na pele que se deteriora com o passar do tempo perdendo elasticidade, tornando-se flácida e com rugas. As companhias farmacêuticas procuram então incluir nos produtos de pele fatores de crescimento destas células que são naturalmente encontrados no corpo humano, com o intuito de aumentar a população das CEM e consequentemente a regeneração natural da pele.
Avanços futuros
O envelhecimento é um processo natural, efeito dos danos genéticos e ambientais causados ao corpo humano e ADN. As células estaminais existentes no corpo humano ajudam a combater os efeitos do envelhecimento mas estas degradam-se com o passar do tempo devido a fatores como a redução da telomerase. Apesar dos investigadores e farmacêuticos mostrarem formas de aumentar o tempo de vida através de alterações genéticas e dietas alimentares, o objetivo de travar o envelhecimento parece distante. Existem, no entanto, uma série de novos produtos anti-envelhecimento, avanços médicos e conhecimentos aprofundados acerca da alimentação que possam ser capazes de abrandar o processo de envelhecimento.
Escrito por Aaron Kwong, MSc
Traduzido por Ângela Carvalho, PgC
Referências:
(1) Ullah, M. & Sun, Z. Stem cells and anti-aging genes: double-edged sword—do the same job of life extension. Stem Cell Res. Ther.9, 3 (2018).
(2) Shieh, S.-J. & Cheng, T.-C. Regeneration and repair of human digits and limbs: fact and fiction. Regen. (Oxford, England)2, 149–68 (2015).
(3) Ogoke, O., Oluwole, J. & Parashurama, N. Bioengineering considerations in liver regenerative medicine. J. Biol. Eng.11, 46 (2017).
(4) Heilbronn, L. K. & Ravussin, E. Calorie restriction and aging: review of the literature and implications for studies in humans 1 – 3. (2003).