Estudos anteriores demonstraram que o transplante de orgãos aumenta o risco de cancro da pele. Um estudo recente analisa a variação deste risco nos últimos anos.
O transplante de orgãos é muitas vezes um tratamento necessário para a insuficiência de orgãos como o fígado, rins, pulmões e coração. Pesquisas levadas a cabo têm sido inconclusivas no que toca à incidência de cancro da pele após o transplante de orgãos. Apesar de o risco permanecer elevado, os técnicos de saúde procuram saber de que forma este tem variado nos últimos anos.
Investigadores na Suécia não descobriram quaisquer diferenças no prognóstico de pacientes após transplante de orgãos desde os anos 80 até aos dias de hoje. No entanto, investigadores holandeses contestaram tais resultados através de estudos recentes que mostraram a diminuição da incidência do carcinoma de células escamosas, particularmente em pacientes de transplante de rins.
A fim de analisar o prognóstico de pacientes após a realização de transplante de orgãos na Noruega, Syed Rizwi e seus colegas do Departamento de Nefrologia do Hospital de Oslo (Department of Nephrology of Oslo Hospital) determinaram a percentagem de ocorrência de cancro da pele após o transplante de orgãos. Tais resultados foram publicados na edição de 2017 de JAMA Dermatology.
Os cientistas utilizaram relativos a todos os pacientes que receberam o primeiro transplante de orgãos entre o ano de 1968 até 31 de Dezembro de 2012. Tal estudo incluiu os 8,026 transplantes de rins, coração, pulmões e fígado realizados na Noruega neste período de tempo. Foram excluídas mortes, deslocações em 30 dias após o transplante, ou diagnóstico prévio de cancro. Este estudo prospetivo seguiu os pacientes durante uma média de 6.7 anos após a cirurgia de transplante e analisou a incidência de cancro da pele, carcinoma de células escamosas, melanoma e sarcoma de Kaposi.
Os resultados demonstraram um declínio drástico do risco de carcinoma de células escamosas nos períodos de 1983-1987 e 2003-2007. Na realidade, após o ajuste das variáveis, a incidência de carcinoma de células escamosas diminuiu para menos de metade em pacientes cujos transplantes ocorreram em 1998-2002, 2003-2007 e 2008-2012. A causa do declínio drástico de incidências de cancro de pele poderá estar nos medicamentos imunossupressores utilizados. Por exemplo, a ciclosporina foi o imunossupressante mais utilizado no período de 1983-1987 e a sua utilização tem vindo a ser largamente suprimida. Os técnicos de saúde têm cada vez mais recorrido a tratamentos individualizados e menos agressivos, o que provavelmente se tem vindo a refletir nos resultados mencionados.
Em conclusão, este estudo demonstrou que a incidência carcinoma de células escamosas em pacientes de transplante de orgãos tem vindo a diminuir significativamente desde meados da década de 80. Tal redução da média de incidências de carcinoma após transplante poderá ser explicada pelos avanços dos tratamentos imunossupressores e a melhoria do acompanhamento médico. É de notar que o risco de carcinoma de células escamosas em pacientes de transplante de orgãos permanece mais alto do que na população em geral e, portanto, cuidados atenciosos são necessários por parte dos pacientes, dermatologistas e médicos de transplante.
Escrito por Dr. Apollina Sharma, MBBS, GradDip EXMD
Traduzido por Ângela Carvalho, PgC
Referências:
Rizvi, Syed Mohammad Husain, et al. “Long-term Change in the Risk of Skin Cancer After Organ Transplantation: A Population-Based Nationwide Cohort Study.” JAMA dermatology (2017)
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