Os enjoos matinais afetam grande parte das mulheres grávidas e a sua causa é ainda desconhecida. Fejzo e os seus colegas utilizaram 23andMe para investigar a informação genética de um coorte de mulheres em busca dos genes relacionados com os enjoos matinais.
A maioria das mulheres sofrem de enjoos matinais durante a gravidez e cerca de 18% das mulheres tomam medicação para tratar esta condição. Sem tratamento, os enjoos matinais podem tornar-se graves e resultar em vómitos, desidratação, perda de peso e deficiências nutricionais. Em alguns casos, pode levar ao nascimento prematuro e deficiências do feto. No entanto, apesar da sua prevalência, não é ainda conhecida a sua causa.
Num estudo publicado em Nature Communications, Fejzo e os seus colegas investigaram as relações genéticas dos enjoos matinais. Para tal, utilizaram dados consensualmente disponibilizados de usuários do sexo feminino do 23andMe. Todas as participantes eram de descendência europeia, 1,306 sofreram de e receberam tratamento para os enjoos matinais, e as restantes 15,756 não reportaram enjoos matinais. Após foi levado a cabo um estudo de associação pangemónica que procura estabelecer a ligação entre as variantes de um gene específico a uma característica de interesse. Neste caso, a característica de interesse é a ocorrência de enjoos matinais.
Os investigadores descobriram duas localizações de genomas potencialmente relacionadas com os enjoos matinais. Uma destas localizações continha os genes GDF15 e LRRC25, e outros genes com ligação a GDF15 que estavam também relacionados aos enjoos matinais. O GDF15 é uma proteína localizada na placenta que aumenta durante a gravidez. As suas funções principais são a supressão da inflamação, facilitar o desenvolvimento da placenta e promover a gravidez. Para além disso, o GDF15 afeta o apetite e ganho de peso. A segunda localização de genoma continha o IGFBP7, um gene que também facilita o crescimento e desenvolvimento da placenta durante a gravidez. Em animais como as moscas, um gene similar está também relacionado com o apetite e o metabolismo.
No futuro, estudos adicionais de associação de genomas serão necessários para interligar estes genes a enjoos matinais em mulheres de descendência não-europeia. Estudos futuros deverão também determinar o papel exato do GDF15 e IGFBP7 nos enjoos matinais. Finalmente, o estudo destes genes e da sua ação ajudará a entender porque os enjoos matinais continuam a ocorrer em mulheres saudáveis e quais os alvos para o tratamento desta condição.
Escrito por C.I. Villamil
Traduzido por Ângela Carvalho, PgC
Referências: Fejzo MS, et al. 2018. Placenta and appetite genes GDF15 and IGFBP7associated with hyperemesis gravidarum. Nature Communications 9:1178.